Séries terão efeitos com mais intuição do que técnica

Previsão é de Sven Martin, técnico de efeitos especiais de 'Game of Thrones'

Quando criança, Sven Martin foi ao cinema assistir a Star Wars. Assim como todos na época, o pequeno estava ansioso para ver novos universos sendo criados pela mente ainda inquieta de George Lucas. Entretanto, o jovem Martin saiu do cinema deslumbrado não pelas histórias entre os robôs C3PO e R2D2 ou pela imponente armadura de Darth Vader. O que o fez suspirar, na verdade, foram os revolucionários efeitos especiais empregados pela Industrial Light & Magic no filme de 1977, criando armas feitas de luz e colocando enormes naves para voar no espaço.

Com o passar dos anos, o amor pelos efeitos especiais transcendeu o universo de Star Wars e cresceu. Filmes como Jurassic Park e O Exterminador do Futuro fizeram Martin ter certeza de que deveria seguir pelo caminho dos efeitos especiais. Hoje, sua vida está mais do que clara: dono de dois Emmys – premiação para os profissionais da TV – e com um currículo impressionante, Martin é um dos principais nomes do setor em Hollywood, trabalhando em sucessos de bilheteria como Jogos Vorazes, Ponte dos Espiões e Homem-Aranha. Ele é o responsável pelo departamento de efeitos especiais da série Game of Thrones, um dos maiores sucessos da TV produzido pela HBO.

Confira trechos da entrevista concedida ao Estado por Sven Martin, que esteve no Brasil para participar do VFX Rio, um dos maiores congressos de efeitos especiais da América Latina.

Você é um dos responsáveis pelos efeitos especiais da série Game of Thrones. Como foi isso?

Comecei a trabalhar em Game of Thrones na 2.ª temporada, já que a Pixomondo, empresa na qual eu trabalho, ficou responsável pelos efeitos visuais de toda a temporada. Eu não tinha ideia, quando fui chamado, do que era GoT. Nem tinha lido os livros. Mas o supervisor da HBO sabia da minha paixão por criaturas fantásticas, especialmente dragões, e acreditou em mim.

Como é trabalhar em GoT?

Já estamos trabalhando na série há cinco anos. Isso não é muito convencional no setor de efeitos especiais, mas acrescenta muita qualidade na produção. Construímos uma experiência que pode ser levada de ano em ano. É a mesma equipe, fazendo com que o processo fique mais fácil. Afinal, são cerca de 30 artistas trabalhando só nos dragões da série! É preciso ter união para realizar o trabalho de um jeito simples e fácil.

Mas aposto que há muitos desafios ao trabalhar em uma série desse tamanho.

Os desafios em GoT crescem a cada ano. Do lado técnico, tive muita ajuda dos atores para criar uma conexão com as criaturas que desenvolvemos. Mas fazer a Daenerys se conectar com os dragões emocionalmente foi difícil. Não podia humanizar os dragões, mas, ainda assim, a gente tinha que transmitir emoções a partir deles. Não é fácil.

Falando na Daenerys e seus dragões: eles exercem um fascínio muito grande nos espectadores e são uma marca da série. Qual o desafio de supervisionar a criação dessas criaturas?

O nosso objetivo principal era criá-los com um pé na realidade, exatamente da mesma forma que todo o restante da produção. Mesmo sendo uma série de fantasia, a experiência de Game of Thrones é como se estivesse assistindo a um filme medieval, com todos os figurinos, armas e locais dessa época. Não queríamos quebrar esse realismo com criaturas superdesenvolvidas, muito computadorizadas.

Tiveram que se inspirar em animais reais, então? Como foi o desenvolvido dos dragões?

Sim, são baseados em animais reais. É uma fusão entre lagartos, morcegos e pássaros. Aí, nós construímos os dragões de dentro para fora, começando com esqueleto, músculos e, finalmente, pele. De tudo isso, a animação é a parte mais difícil, pois não temos referências de dragões.

Muitos críticos dizem que o CGI e os efeitos especiais em excesso estão estragando Hollywood.

As imagens geradas por computador não são diferentes do uso de câmera, luz, som ou cor e algumas histórias, como os dragões de GoT, só podem ser contadas com efeitos. A maioria das pessoas não percebe se acabou de ver um efeito especial, quando ele é bem feito. Nunca é a ferramenta que faz um filme ruim, é o artista que a usa.

Qual o futuro dos efeitos?

A tecnologia já está em um ponto em que quase tudo é possível. Ainda temos que desenvolver a técnica de humanos criados digitalmente, mas tenho certeza que isso será resolvido em um futuro próximo. A questão, entretanto, ainda é entendermos o motivo de substituir os atores: por segurança, envelhecimento? Quanto às novidades, acho que além de imagens com resolução maior ou experiências em 360°, a tecnologia trará a capacidade de produzir efeitos em tempo real diretamente na câmera ou no monitor enquanto filmamos os atores, tornando a filmagem mais intuitiva e menos técnica.

http://cultura.estadao.com.br/noticias (13/12/2016)

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