WIPO: pesquisa aponta caminhos para promoção da paridade no audiovisual_2021

No dia 26 de outubro, foi promovido o Seminário Internacional Mulheres do Audiovisual, como parte das programações da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Na ocasião, Luciana Vieira, especialista em políticas públicas e gestão governamental e membra do Mais Mulheres – Lideranças do Audiovisual Brasileiro, apresentou a pesquisa "Mulheres na Indústria Audiovisual – Um panorama de Argentina, Brasil, México, Uruguai e Espanha". O estudo foi conduzido com apoio da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), instituição vinculada à ONU, e teve como principais fontes as organizações governamentais e associações de mulheres do setor. A pesquisa foi realizada por quatro brasileiras: Debora Ivanov, Luciana Vieira, Aleteia Selonk e Marcia Candido, entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021. 

Na mesa, Vieira elencou os principais insights do estudo. Em primeiro lugar, ela explica o porquê da importância de falar sobre a presença feminina na indústria do audiovisual: "A resposta é que a igualdade de gênero vai além do setor. Sem dúvida, traz benefícios econômicos para a indústria, mas pode contribuir para criar mais igualdade em demais setores, afetando a sociedade como um todo, por meio das narrativas audiovisuais". Nesse sentido, a especialista reforça o quão fundamental é ter disponíveis esses dados sobre a participação feminina na indústria – mas eles, infelizmente, ainda são escassos e assimétricos: "Na maioria dos casos, temos acesso apenas a estudos individuais. As estatísticas oficiais se limitam às funções criativas de liderança, direção e roteiro. Na Espanha, há mais dados graças ao trabalho da CIMA (Asociación de Mujeres Cineastas y de Medios Audiovisuales), mas no caso de Argentina, Brasil e México, os dados são coletados pelas agências governamentais de cinema desses países, o que pode levar à descontinuidade se não houver uma obrigação. No Brasil, por exemplo, o anuário estatístico de cinema começou a trazer dados com recorte de gênero em 2015, mas as edições de 2019 e 2020 não trouxeram essas informações. A importância dos dados não pode ser subestimada". 

As posições ocupadas pelas mulheres 

Em todos os países pesquisados, a participação das mulheres em cargos de liderança criativa é minoritária e concentrada nos projetos de menor orçamento. Além disso, não está avançando para ser igualitária no futuro. Há um relativo equilíbrio de gênero nas funções de produção em Argentina, Brasil e México, mas em nenhum desses países as mulheres chegam a ocupar mais do que 30%.

Nas funções técnicas – direção de som e direção de fotografia – a participação feminina é ainda menor – o estudo define como "sub-representada". Já no que diz respeito a figurino, penteado e maquiagem – profissões de estereótipo feminino – a participação das mulheres é dominante: mais de 80% na Argentina, entre 70 e 80% na Espanha e mais de 70% no Uruguai. 

Falando sobre os personagens das obras audiovisuais, as personagens femininas são minoria e, com frequência, estereotipadas ou sexualizada. Mulheres – sobretudo mulheres negras – são sub-representadas. No Brasil, entre 1995 e 2015, a proporção de personagens femininas oscilou entre 23 e 35%. Na Argentina, por sua vez, somente 20% das narrativas têm equilíbrio de gênero entre atores e atrizes. "É um problema quantitativo e também qualitativo", definiu Vieira. 

As causas da desigualdade 

O estudo não identificou o que causa tamanha desigualdade – mas concluiu que a razão não é a falta de profissionais qualificadas, pois mulheres concluem cursos de cinema e audiovisual em todos os países analisados. No Brasil, 53% dos graduados em cursos relacionados à área audiovisual são mulheres; na Argentina, 61%. 

Como avançar? 

A pesquisa ainda se propõe a avaliar como avançar no sentido de mudar esse cenário. "Se observamos as experiências internacionais disponíveis, veremos que há quatro forças que podem impulsionar a mudança", introduziu Vieira. 

A primeira delas, como já apontado pela especialista anteriormente, está ligada aos dados, isto é, informação e visibilidade. "É necessário promover a existência e a difusão dos dados para justamente entendermos o problema e desenharmos soluções, além de darmos visibilidade à causa e alimentarmos o debate público. O primeiro passo para resolver um problema é saber que ele existe", pontuou. 

O segundo movimento seria o das políticas públicas. "Como diriam nossos colegas da Alemanha, se o dinheiro é público, tem que ser equitativo. As políticas públicas, especialmente de financiamento, não só não devem reforçar as desigualdades existentes como devem promover ativamente uma maior igualdade", disse. 

Nesse sentido, as políticas empresarias também são importantes – e pouco lembradas. "No final das contas, são as empresas que financiam, contratam, definem o que será produzido e movem a indústria. Por isso a questão é como tornar as empresas mais responsáveis socialmente e fazer com que elas se preocupem com a igualdade de gênero. Elas, assim como as políticas públicas, têm um papel fundamental", ressaltou. 

Por fim, estão os movimentos da sociedade civil. A análise apresentada enfatiza que as políticas públicas não surgem espontaneamente – e, sim, como frutos das pressões sociais. E o mesmo ocorre com a sociedade empresarial. "Esses movimentos são importantes para colocar o tema em pauta, mantê-lo em evidência e conseguir avanços na igualdade de gênero de um setor que, como comentamos, vai além dele próprio, e beneficia a sociedade como um todo", finalizou a especialista. 

O estudo está disponível na íntegra, em espanhol ou em inglês.

FONTE: TELA VIVA

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